A fortuna do Yokozuna

Com a simpatia de uma tradutora, esclarecemos o nosso mútuo interesse. Eu pergunto-lhe sobre o sumo, e a fortaleza de onze anos questiona-se sobre mim: “Porque não tens aliança?” “Ainda sou muito novo” não o convence e dá-me força em japonês… “Gambatte!”
Enquanto assisto aos demorados rituais xintoístas que antecedem os combates, Toshi poisa a mão no meu joelho sem que eu entenda porquê. É a primeira criança nipónica que atravessa comigo a fronteira da timidez.
É o desporto com mais fair-play que alguma vez vi. Cinco árbitros ajuízam qual o primeiro lutador a sair do ringue ou a tocar no chão com qualquer almofada de gordura que não os pés. Em caso de dúvida, repete-se o combate.
Ninguém comemora ou reclama. E há em dinheiro em jogo, muito. Vejo o Yokozuna, o mongol Asashoryu, enriquecer 20.000 euros em poucos segundos, entregues num envelope logo após o combate. Nenhum lutador esboçou qualquer reacção.

