domingo, dezembro 24, 2006

(interrupcao asiaticamente temporaria do blog)

Com... O CANTO PORTUGUESINHO

De um costume brandinho,
Sonhava um menininho
Por um caminho sozinho.

Do ninho pequenininho
Esvoaçou o rapazinho,
Portuguesinho.

Onde nasce o solzinho
Avança devagarinho,
Procura o seu cantinho,
Deseja um cafezinho,
Obrigadinho!

Estima as japonesinhas
O salta-pocinhas.
Do que mais gosta da terrinha,
É das saudadinhas,
Como as que sente agora,
Poucochinhas…

terça-feira, dezembro 19, 2006

Hotéis do Amor

Guetos arco-íris de extravagâncias arquitectónicas, os distritos de “Hotéis do Amor” servem para os japoneses desanuviar o acumular hormonal, enxugar os beijos que não trocam em público. O aconchego dos ninhos de privacidade desinibe casais que vivem com os pais até tarde demais, eclipsa a tenuidade japonesa das paredes que confessa agonias de prazer. Também servem para turvar a meretrícia.

A descrição é superficialmente nipónica. Na recepção não há olhares que condenem desemparelhados, e o quarto escolhe-se num painel luminoso de fotografias. Aos Sábados à noite, a luz acende, “FULL”, e pela madrugada dentro e fora, os lençóis são os redentores da energia libidinosa. Música e jacuzzi, corações e karaoke, desabotoam chocolate que esconde o que descobre voluptuosamente a imaginação.

Ou descansam durante três horas, ou ficam. As hormonas preferem os Love Hotel.

Outras fotografias, aqui.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Provérbio japonês

O prego que sobressai, logo será amassado.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Outono é aqui

As árvores caducam de vermelho,
A paisagem.
Do Inverno que não chega velho,
A melancolia.
Pensamentos cinzentos na aragem
Esvoaça ao sabor dos ventos,
A nostalgia.
É Outono,
E Outono é em Quioto.

Outono é aqui.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Imagens narrativas V - Maiko

Existo na mistura dos caminhos, do lado que sigo nos caminhos e nos instantes passados nos caminhos. Aprendi a não parar para decidir por que lado vou. O lado que seja é o em frente.

Na caminhada de 24 voltas da Terra ao Sol, encontro-me especado com esta oportunidade. As Maiko-san cruzam-se no caminho. Ambas percebem que estou pronto a preservar o instante. Em segundos desaparecem no seu caminho mas ficarão para sempre nas pedras que já trilhei.

Maiko-san são as aprendizas de gueisha. Cada passo da “criança que dança” é um cortejo de inocência, uma caricatura de feminismo.
A quantidade de turistas que se disfarçam de Maiko em Quioto assoma dúvidas e a foto torna-se um enigma. A minha consciência clama que são autênticas. O uso do telemóvel confirma o país dos paradoxos, a velocidade a que caminhavam, o argumento final. Nenhuma turista se desenvencilha com as sandálias pokkuri.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Acordes de Quioto

A nota musical mi é o leitmotif de viagem pela única cidade em que ainda remanescem machiyas, as casas tradicionais de madeira. Um bom-senso de preservação cultural livrou Quioto do átomo.
Ao chegar à Estação futurista que bombeia a soberania de turistas, cintila-me o arco-íris de cinzentos comum às metrópoles japonesas.

Na cilada do circuito sightseeing, uma pressão desentope em mim balbúrdias interiores. Enquanto me concentro para não vociferar e com o apetite a potenciar impaciências, resisto a uma hora de viagem pelas novas ruas do velho Japão, esmagado pelas contradições singulares desta cultura. Os japoneses não se tocam, jamais se beijam em público, e neste autocarro o amassar dos corpos é permanente e aos solavancos.

Com a independência de um pé atrás do outro conquistada, desisto de memorizar o nome dos templos que visito, esqueço-me quantas vezes Buda me sorriu. Quioto é um templo em forma de cidade que atrai multidões de ienes.
Volto por isso a suportar o frenesim turístico. Insistirei neste assunto enquanto me incitar que a maioria dos excursionistas viaje no tempo de uma pose para a fotografia. Depois de gravado na memória – da câmara –, acabou-se a viagem.

Refugiando-me na tecnologia para alcançar a tradição, ouço flautas MP3 que me recheiam de vácuo, desfruto o que outros desprezam e me transporta ao silêncio ritmado pelos sons da natureza de séculos atrás.
Mas a romaria destrói tentativas de meditação nas rochas Zen que induzem ao transcendental.
Os jardins Zen são sem dúvida de uma beldade inaudita, de uma placidez que emana energia. Mas não existem. Concebidos por arquitectos, são galanteados diariamente ao detalhe, atingindo o belo da mesma forma que está inscrito no nome das minhas companheiras de viagem, Fumi, Asami, Naomi e Yumi. Mi significa beleza, e em todas elas se amplifica para além do nome.
Apresentam ao seu ex-aluno de japonês o antepassado de Quioto, cantando pela manhã bebida de saqué acordes em mi maior.
Mais fotos de Quioto, aqui.