Teorias sobre o Japão em Pinturas Mentais
Há quem diga que vivo de imagens; mas ninguém pode dizer que eu não vivo no Japão e por não haver país menos conceptual, usarei a pintura para o apresentar.
Vulcões Salaryman, aguarela
Viajo no metropolitano de Tóquio, olho em volta e, qual desvario kafkiano, os salaryman que se deslocam impávidos na rotina transformam-se de súbito em pequenos vulcões.
Desta fusão geo-humana surge um ser que controla os próprios instintos animais. Os japoneses fervilham como vulcões, mas têm o poder de manter o magma dentro deles até arrefecer. Vejo em cada salaryman um vulcão que embora não esteja extinto, não entra em erupção.
As tigelinhas de arroz, pintura a óleo
Foi também na ferro-via que se me coloriu repentinamente e sem explicação a seguinte tela de sinapses: cabe às japonesas a mesma descrição que se pode fazer à tigela de arroz branco (tão importante no quotidiano culinário). Ora, não se fica esfomeado nem muito cheio, satisfaz o suficiente; o arroz é saudável e sempre com bom aspecto, a tigela elegante e bonita; o sabor é sempre igual e difícil de distinguir, mas daí que não enjoe e seja apetecível a todas as refeições.
Biru kudasai, serigrafia
O álcool é o elixir da verdade, ninguém desconfia de um embriagado.
O povo japonês não pretende ser malicioso mesmo quando mente, o que pretende é ser simpático. E é com a potência alcoólica que o sol finalmente nasce para os japoneses poderem relaxar da formalidade da simpatia. (E os vulcões soltam a lava suavemente.)
Giro ou assustador?, acrílico
Este é um quadro de arte naíf: os japoneses simplificam a variação das suas reacções àquilo que acham muito giro e àquilo que lhes mete medo. Variam portanto entre o Kawaii! (giro) e o Kowai! (assustador). Do “a” ao “o” a diferença é mínima mas o resultado da sua utilização semântica é completamente oposto.
Estas imagens foram pintadas por mim, mas teorias há de outros olhares interessados, que fui escutando desde que meus tímpanos filtram sagazes o assunto Japão.
Peixes na água, aerografia
Donald Richie já reside em Tóquio e escreve sobre o Japão ao tempo que perfaz o dobro da minha idade. Numa entrevista-aerografia que folheei há uns meses, Richie diz que “perguntar a japoneses sobre o Japão é o mesmo que perguntar a peixes sobre a água”. Não se apercebem onde nadam nem porque o fazem, mas sabem nadar.
A caixa de comida, guache
Um neozelandês com quem conversei uma vez, deu-me a observar o seu quadro pop-art: “podemos perceber o Japão se olharmos para a caixa de comida obento, tudo está separado, ingrediente por ingrediente, nada se mistura”.
(Inspirado pela sua pintura, logo criei uma imagem sob essa influência, mas muito minimalista.
A bandeira, guache.
A bandeira do Japão, duas cores, simplicidade. O vermelho é o Sol, um círculo perfeito sobre a pureza branca.
Ali é vermelho, aqui é branco. Aqui é assim, ali não. Japão.)
Sem título, carvão
Para finalizar, uma pintura a carvão que ilustra genialmente este país, que me foi descrita por um compatriota, que havia escutado de outro compatriota.
Esta pintura é uma obra-prima, a preservar no Museu das Teorias Sobre o Japão em Pinturas Mentais. “Os japoneses são cem milhões de bonsais.” Recortados desde os rebentos, crescem deformados de personalidade, feitos para serem miniatura: o provérbio “Deru kugi wa utareru” completa esta imagem, “o prego que sobressai logo será amassado”.
(Decidi não colocar fotografias a acompanhar este texto e a razão é tão simples como a bandeira do Japão: o que se tratou neste texto foi de pinturas mentais)
Vulcões Salaryman, aguarela
Viajo no metropolitano de Tóquio, olho em volta e, qual desvario kafkiano, os salaryman que se deslocam impávidos na rotina transformam-se de súbito em pequenos vulcões.
Desta fusão geo-humana surge um ser que controla os próprios instintos animais. Os japoneses fervilham como vulcões, mas têm o poder de manter o magma dentro deles até arrefecer. Vejo em cada salaryman um vulcão que embora não esteja extinto, não entra em erupção.
As tigelinhas de arroz, pintura a óleo
Foi também na ferro-via que se me coloriu repentinamente e sem explicação a seguinte tela de sinapses: cabe às japonesas a mesma descrição que se pode fazer à tigela de arroz branco (tão importante no quotidiano culinário). Ora, não se fica esfomeado nem muito cheio, satisfaz o suficiente; o arroz é saudável e sempre com bom aspecto, a tigela elegante e bonita; o sabor é sempre igual e difícil de distinguir, mas daí que não enjoe e seja apetecível a todas as refeições.
Biru kudasai, serigrafia
O álcool é o elixir da verdade, ninguém desconfia de um embriagado.
O povo japonês não pretende ser malicioso mesmo quando mente, o que pretende é ser simpático. E é com a potência alcoólica que o sol finalmente nasce para os japoneses poderem relaxar da formalidade da simpatia. (E os vulcões soltam a lava suavemente.)
Giro ou assustador?, acrílico
Este é um quadro de arte naíf: os japoneses simplificam a variação das suas reacções àquilo que acham muito giro e àquilo que lhes mete medo. Variam portanto entre o Kawaii! (giro) e o Kowai! (assustador). Do “a” ao “o” a diferença é mínima mas o resultado da sua utilização semântica é completamente oposto.
Estas imagens foram pintadas por mim, mas teorias há de outros olhares interessados, que fui escutando desde que meus tímpanos filtram sagazes o assunto Japão.
Peixes na água, aerografia
Donald Richie já reside em Tóquio e escreve sobre o Japão ao tempo que perfaz o dobro da minha idade. Numa entrevista-aerografia que folheei há uns meses, Richie diz que “perguntar a japoneses sobre o Japão é o mesmo que perguntar a peixes sobre a água”. Não se apercebem onde nadam nem porque o fazem, mas sabem nadar.
A caixa de comida, guache
Um neozelandês com quem conversei uma vez, deu-me a observar o seu quadro pop-art: “podemos perceber o Japão se olharmos para a caixa de comida obento, tudo está separado, ingrediente por ingrediente, nada se mistura”.
(Inspirado pela sua pintura, logo criei uma imagem sob essa influência, mas muito minimalista.
A bandeira, guache.
A bandeira do Japão, duas cores, simplicidade. O vermelho é o Sol, um círculo perfeito sobre a pureza branca.
Ali é vermelho, aqui é branco. Aqui é assim, ali não. Japão.)
Sem título, carvão
Para finalizar, uma pintura a carvão que ilustra genialmente este país, que me foi descrita por um compatriota, que havia escutado de outro compatriota.
Esta pintura é uma obra-prima, a preservar no Museu das Teorias Sobre o Japão em Pinturas Mentais. “Os japoneses são cem milhões de bonsais.” Recortados desde os rebentos, crescem deformados de personalidade, feitos para serem miniatura: o provérbio “Deru kugi wa utareru” completa esta imagem, “o prego que sobressai logo será amassado”.
(Decidi não colocar fotografias a acompanhar este texto e a razão é tão simples como a bandeira do Japão: o que se tratou neste texto foi de pinturas mentais)