terça-feira, novembro 28, 2006

Kaizen, o aperfeiçoamento contínuo

A perfeição até pode não existir, mas o Japão persegue-a constantemente.
Kaizen é uma filosofia seguida na família e na empresa. Nenhum dia deve passar sem haver qualquer melhoria, porque os japoneses têm a consciência pesada de que é sempre possível fazer melhor, um princípio que identifico no amigo Romão.

O meu mestre de futsal é o português mais japonês com quem convivi em Portugal. Sem o saber, o Romão segue à risca a cultura Kaizen. “É preciso melhorar”, logo o ouvíamos dizer depois de vencer um jogo por 7-0. Claro que para alguns, no país que educa tolerância e declarações de desistência, pessoas assim tornam-se chatas.

No colectivismo nipónico, olha-se em frente num horizonte bem longo, o futuro vive-se no instante, como treinar a posição de golfe enquanto o metro não chega. Mais do que melhorar, Kaizen significa todos estarem sempre a melhorar.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Lafcadio e os contos de fadas

“Quando notar, daqui a mais 4 ou 5 anos, que não consegue entender os japoneses de modo algum, é então que começará a conhecer alguma coisa a seu respeito”
Lafcadio Hearn (1850-1904)

terça-feira, novembro 21, 2006

"V" de Paz

Foi durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 1972 que uma patinadora artística e atleta da Paz tornou célebre o sinal em "V" nos meios de comunicação nipónicos.

Os japoneses pausam o momento no tempo para ser vivido depois. No alvoroço da imagem, as máquinas fotográficas fazem fila de espera para o disparo que eterniza.
É frequente pedir emprestado o serviço de um fotógrafo transeunte, e antes do clarão do flash, já os dedos se adornam aos sorrisos para manifestar num "V" a vitória da Paz.

A pose favorita da fotografia amadora converte as ocasiões numa reminiscência de sorrisos, numa postura da Paz.
Fotografias, aqui.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Não fumadores fumadores

Foi uma das descobertas mais surpreendentes, os fumadores compulsivamente japoneses.

A estatística dá sinais de fumo: quase 50% dos homens nipónicos são chaminés que descarregam na nicotina existências obreiras em que falta viver.
Não é uma questão cultural, apenas uma questão aditiva.
O governo do Japão continua a promover campanhas contra o tabagismo, mas apesar dos que bombeiam de morte os pulmões usarem cinzeiros portatéis anti-poluição e existirem locais próprios para o consumo em grupo da muleta social, em muitos estabelecimentos a opção fumador-não fumador não se aplica, tornando os passivos fumadores, ao inspirar a dispersão do incenso que mata.
Sinais de fumo, aqui.

terça-feira, novembro 14, 2006

Palco das maravilhas

Não há regulamento nesta cidade para elevar à microscopia o interesse do momento-impressão. Tokyo rebenta de pessoas e das faíscas despontam personagens saídos de peças de Beckett, do país das maravilhas, de um futuro que não sonhei no passado. A arte joga com a música, a moda brinca com o talento, o show-off dá azos ao acanhamento, nesta dramaturgia em movimento sou tão insólito aos olhos de uns como são para mim outros colegas do palco.

quinta-feira, novembro 09, 2006

A barriga dá horas de silicone

Sem que ouse a generalização, os japoneses não respondem a surpresas, têm de saber com detalhe o que vai acontecer, de que se vão alimentar.
Nas montras comerciais, o Japão sabe aliciar a compulsão consumista a quem tem fome. E dinheiro. Se a solidariedade tivesse o poder do cifrão e se não houvesse a condição do “se”, a fome não murmurava silêncios de quem não sabe o que é.

Olho faminto o brilho do molho à bolonhesa, as bolhinhas da cerveja, o tempero sobre a alface, as pitadas de sal nas batatas, o recorte perfeito do sashimi.
A barriga dá horas de silicone e entro no restaurante. Esta é a verdadeira plastic food, criada por artistas plásticos da nutrição, apenas mais um fenómeno singular ao Japão.
Montras de apetite, aqui.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Há coincidências sim senhor

Amor em japonês diz-se... "ai", a interjeição da língua portuguesa relativa à dor.

terça-feira, novembro 07, 2006

Imagens narrativas IV - Pornografia fofinha

O Adult Video é um enorme negócio no Japão, com novos filmes à margem ou não das leis a serem produzidos diariamente. A distância à devassidão está ao entrar de uma loja especializada nos mais depravados fetiches e fantasias obscurecidos atrás das gravatas dos salarymen.

No país do “kawaii”, o culto do que é doce e fofinho, as actrizes são meninas envoltas em áureas de inocência e angelical inexperiência. Aparecem na televisão e imprensa, têm sites oficiais e legiões de fãs dentro do cisma japonês por colegiais. Muitas destas estrelas são recrutadas pelas produtoras em plena rua, providenciando empregos álibi para as que querem esconder a profissão que lhes enriquece as carteiras.

Talvez a menina que dá as boas-vindas preliminares à entrada da loja tenha feito mais de cem filmes, e abandonado a sua carreira pornográfica aos 20 anos. Talvez não seja a primeira vez. Talvez tenha abandonado a carreira mais cedo.

quinta-feira, novembro 02, 2006

É dia de matsuri, a hora é de festejar

É dia de matsuri em Kawagoe, “a pequena Edo”. Os matsuri são as festas populares do Japão, carregadas de cor, alegria e xintoísmo.

No matsuri de Kawagoe, quando se cruzam dois mikoshi, os veículos que carregam os espíritos divinos, o ritmo da música e o bailado dos deuses são os instrumentos do duelo. O vencedor segue adiante para encarar contorcido a torrente de pessoas e câmaras fotográficas. Num sem-fim de fotógrafos sem idades e modelos topo de gama, uns divertem-se e outros vêem.
Alguns observam.

Um constante tamborilar escolta o meu olho mecânico pelo íman das crianças que viajam no tempo. Nesta celebração da tradição, os que andam à volta da fogueira são a aparência do futuro que juntam palavras deste tempo sempre novo, a este lugar em que a hora é de festejar.

Fotografias, aqui.