quinta-feira, agosto 09, 2007

Kim e o Zoo, viagens e outros zus

Dizem que o Mundo é pequeno, e dizem bem. Então digam-me agora também, de que tamanho é a maior cidade do Mundo.
Kim ainda não é fotógrafa profissional no sentido da independência económica. Sem dúvida que é uma profissional na dedicação e talento. Diz-me que a próxima exposição já terá as fotos dos Zoos. O jardim zoológico é o seu lugar fotográfico. Há meses que percorre os Zoos da Ásia fotografando os animais, os leões tristes, os chimpanzés que observam as pessoas, o rato que aguarda a morte dentro da jaula da serpente, as crianças que alimentam os elefantes, quantos temas a explorar num só lugar? Cruzámos os nossos caminhos no Aeroporto de Narita, na fila para um embarque sudeste asiático. Dei-lhe a minha vez, porque me educaram que em primeiro estão as senhoras. Um gesto de uma educação. Para Kim, que ainda hoje brinca com o assunto, foi um acto de engate. Quando digo a Kim, por exemplo, que a sua amiga é muito bonita, Kim volta a insistir com a crónica do engate. Eu tento explicar-lhe que há uma diferença entre o engate e ser latino.

A vida é um dominó de sequências. Sucedeu que nos encontrássemos novamente na carruagem do comboio que faria a ligação Aeroporto – Estação Central de Kuala Lumpur. Eu estava de férias. Precisava de férias do Japão. Quando vi Kim entrar na carruagem as palavras saíram sem controlo, porque do espontâneo se faz o latino:

Nihonjin desu ka?” disse a mesma pessoa que precisava de férias do Japão.

Oh falas bem japonês.”, disse Kim em japonês, tal como um japonês, com surpresa.

Esforço-me.”, disse eu, antes de Kim responder finalmente à pergunta inicial: “Nasci coreana mas agora tenho passaporte japonês.” E a partir daí começámos a comunicar principalmente em inglês. Esporadicamente em japonês. Muitas vezes sem necessitar sequer de falar.

Caímos de súbito num carrossel de coincidências: ambos carregávamos o peso da paixão pela fotografia; descobrimos que somos vizinhos em Tóquio; que ambos jogamos futsal regularmente nos campos de Shinanomachi; que ambos somos uma mistura, Kim, de Coreia e Japão, eu, de Portugal e de ainda-não-sei-de-quê; e ao saber isto, no auge do carrossel, Kim reage jovial por poder finalmente conhecer um natural da terra em que ela e seu marido um dia sonham viver.

O marido de Kim sonhou um dia que era um marinheiro de Portugal dos tempo dos Descobrimentos. Sori acredita que, noutra vida, foi esse marinheiro. O seu inconsciente levou-o a pensar consciente, e juntos, Sori e Kim já visitaram por duas vezes o meu país. Adoram o vinho, o bacalhau, e o Alentejo. Logo ali, naquela carruagem transformada por momentos em carrossel, que prosseguia entre bananeiras ao vento, nos tornámos amigos. Um acto instantâneo, como tirar duas peças de um saco de puzzle e encaixarem assim, tão natural como as bananeiras ao vento.

Que foi para mim encontrar Kim? Confirmar que viajar é a melhor Universidade? Que é o lugar que nos ajuda a ajustar aos nossos desígnios? E que foi para Kim encontrar-me? Ter um jogador estrangeiro no seu clube de futsal? A certeza da ligação a Portugal? Uma motivação para alcançar o sonho do casal?

Será destino? Quantas perguntas sem resposta existem? O destino não é só uma sequência de acontecimentos? Como as peças do dominó, umas caem, outras ficam de pé. É tudo tão acidental como eu ter sido o primeiro espermatozóide a chegar ao óvulo da minha mãe.

Destino… Fatalidade. Fado. Portugal. Não é por aqui o caminho. O caminho é em frente! Há que descobrir novas peças de dominó. E Kim descobriu a sua dedicação ao Zoo. Admiro o acidente da nossa amizade e admiro muito a sua dedicação ao Zoo. É um dos seus focos.

Eu desoriento-me por ver tudo desfocado. Ainda não cheguei acolá e já mudei de rota para ali. É só isso que eu sei fazer, deixar-me ir na corrente, viajar. A tal ponto que superei o meu ídolo de infância, Willy Fog, que precisou de 80 dias para dar a volta ao Mundo. Eu só precisei de duas horas. Bastou-me ver o filme Baraka sentado no sofá.

Mas na semana passada bati de novo o meu recorde. De volta ao campo de futsal, percorri quilómetros de divertimento, viajei por entre jogadas de amizade, cheguei à Estação Central das recordações. Dia 16 de Agosto, lá estarei em casa do casal amante de Portugal, para ver o céu de Tóquio explodir de artifício, acompanhado de vinho do… Alentejo. Será mais uma viagem de muitos quilómetros.

7 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

vives a vida com um sentido de amor profundo, e é esse o tecido que faz com que a tua vida não seja banal

é isso
e depois acontecem coisas como esta

puto vasco

12/8/07 2:57 da manhã  
Blogger Tiago Ramos disse...

que bonito. : )

12/8/07 7:07 da tarde  
Blogger Okawa Ryuko disse...

Um blogue interessante!Parabéns!

14/8/07 5:32 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

...quem sou eu para contrariar este teu post extraordinario e inovador num tema tao querido a todos que é a Amizade.
Mas tenho a fazer um reparo sobre o "acidental" espermatozoide que chegou ao ovulo de tua mãe!
Nesta vida nem sempre não há coincidências ; é que o tal espermatozoide era o mais veloz do team , só esse geraria uma "peça" de nome Tiago , com o ritmo que o proprio post revela .
Tu ate no futsal fortaleces Amizade.
Isto é o que hoje se chama Medicina baseada na evidência!!!

Eu, a dona do ovulo que o veloz espermatozoide atingiu!!!

15/8/07 6:26 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Lastimável...
Como é nunca conseguir sair do interior de seu próprio ciclo arqueTípico???

Oh gloriosa mesmidão infinita que se repete over and over AGAIN!!!

Louvai e submeta-se, sempre...quer queira, quer não...

Sorria com lágrimas, nobre e estúpido peregrino! Estais vivo e não poderá mudar isso por vontade própria, pois sua mediocridade interna não o permite.

Curvai ante as adiposidades cerebrais, a deploridão humana, e a exarcebação da falta de consciência.

O que é isso? O que não é isso? Queres responder? Sentis ultrajado por tal afronta? que afronta? O que dissestes mesmo? Não o perdoarei jamais...olha: já notou que vossa boca fora especialmente projetada pura e exclusivamente para falar como humano, humanamente e para humanos? Isso não é mesmo o que de mais vil que poderia ter advindo do que grandes cabeças alegadamente intelectuais chamam de Entidade Infinitamente InteliGente? Inteligência infinita... eu riria se essa frase não me parecesse mais destituída de qualquer item axiológico que preenchida com qualquer valor cômico.

Contemple a gloriosa Terra dos clichês. Ou antes, contemple enquanto pode, se é que it's worth to.

Avulte o Grande Ciclo reprodutor da estrutura autômata de fraternidade e solidariedade falsas, nesse horizonte de rebanhos infindos que não pensam em qualquer coisa superior que se superarem enquanto serem obedientemente pertencentes a seus respectivos rebanhos.

Não consegue tolerar o caos? Ora, verifique: de repente já estás morto e nem mesmo se dera conta disso, pois a leitura destas linhas o distraíra.

I'm singing in the rain... but, there's no rain out there... so what? The end is so far away that i could puke for this... hey, WAIT RIGHT THERE: I'm already puking!!!!!!!! I writed it, too late, too bad.

16/8/07 5:59 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

sempre que leio o que escreves (re)apaixono-me ;)
Continuo "de olho"...por isso não pares de nos surpreender com as tuas deliciosas notícias.

beijinho
Fi

27/8/07 11:24 da tarde  
Blogger toni disse...

Acabei de descrobrir este blog que é sensacional!
Apesar de ser instruitivo, permite-me de continuar a ler (e escrever)o português, que perco pouco a pouco.

Sou um português (vivendo na Suiça) e estou a perder-me em Tokyo durante 2 meses e sou adepto de futsal! ;) Onde acha que posso jogar?

Parabéns!

17/11/07 5:45 da tarde  

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