Nas ruas de Kagurazaka
Em Kagurazaka viaja-se ao velho Japão em pleno coração de Tóquio. Este bairro é uma colina, mas se Tóquio tivesse baixa, seria aqui. O declive é a imagem de marca que faz deste local um ícone da capital.
Kagurazaka, a ladeira-do-deus-da-diversão, está repleta de ruínhas pedonais paradas no tempo. As casas tradicionais que circundam os quelhos são tratadas como bonsais, por onde deambulam em gordas boémias gatos sempre desconfiados.
Viver é o que fazemos do nosso habitar: acordo bem-disposto com os ecos infantis que ultrapassam a janela do meu quartinho; com o circo das traquinices perante os meus olhos, tomo o pequeno-almoço; vou ao supermercado domingueiro, caminho a ladeira cima a baixo; atalho outra vez sob o candeeiro lunar, por entre ruas desertas em paz; de regresso a casa ouço o infalível Okaerinasai! de boas-vindas, que completa a viagem ao passado. A Srª e o Sr. Saito são os meus vizinhos e senhorios. Desconfio que este casal de idosa genica não sai de Kagurazaka há muito tempo. Para quê, habitam na nostalgia...
E eu, como posso sentir saudades de casa? Pois se a minha casa é aqui, na ladeira do deus da diversão.
Fotografias, aqui.
Kagurazaka, a ladeira-do-deus-da-diversão, está repleta de ruínhas pedonais paradas no tempo. As casas tradicionais que circundam os quelhos são tratadas como bonsais, por onde deambulam em gordas boémias gatos sempre desconfiados.
Mantém a atmosfera tradicional, apesar das invasões francesas. Os expatriados francófonos escolheram este lugar para viver, presumo que pelo seu síndroma do orgulho. Não escolheram mal não senhor.
Até a banda sonora me reporta ao mundo encantado de Amélie Poulain, mas é na fábula de Kagurazaka que eu vivo acordado. Em miragens avisto guerreiros samurais, de kimono passam gueixas à minha frente... esfrego bem os olhos e apercebo-me que não é uma ilusão: nas tortuosas vielas de Kagurazaka ocultam-se as últimas gueixas da capital.

E eu, como posso sentir saudades de casa? Pois se a minha casa é aqui, na ladeira do deus da diversão.

2 Comments:
Que riso puto
Mas será que não consegues descrever as coisas como se de um brinquedo novo NÃO se tratasse??
Contagia por vezes essa felicidade. Cria inveja noutras, face à monotonia qb e habituação que se sente por cá
por vezes..
abraço
vAsco
desesperadamente à procura de um motivo urgente que me desculpe uma pausa no trabalho, lembrei-me de um comentario feito na semana passada....«fui a um jantar com umas amigas da minha mae e o filho de uma delas, que está em tóquio, tem um blog..parecendo a desculpa perfeita, espreitei. Por um momento voei, lembrei do quanto gosto e tenho saudades d viajar...deu para relembrar os «cheiros» da asia...obrigada por este «bocadinho»
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