segunda-feira, abril 02, 2007

A formiga pede desculpa por ir descansar

Quantos trabalhadores japoneses consomem a vida em horas extraordinárias. "Osakini shitsurei shimasu", não se esquecem de desculpar-se diariamente: “peço desculpa por estar a deixar o trabalho mais cedo do que você”.
O Japão adopta o sistema de promoção por senioridade e emprego para toda a vida, e por isso o número de horas passadas na empresa é o barómetro de lealdade e dedicação de um empregado, critério essencial para “fazer carreira”, ou seja, ser promovido no engodo do capitalismo.
Os pinguins da corporação não são obrigados a trabalhar longas horas, antes estão dispostos e acostumados a fazê-lo. A empresa torna-se a sua família, e a vida profissional prioritária à vida pessoal: muitos não gozam os raros dias de férias a que têm direito por medo de perder o emprego.



Esta dedicação obreira contribui para que o Japão seja ainda a 2ª maior economia do Mundo, mas a excessiva industrialização do corpo tem consequências na semântica. Existe uma palavra japonesa ("karoshi") que significa "morte por horas extraordinárias". (Não foram poucos os casos ocorridos no Japão.)

De traje vestido transformam-se no salaryman e na office lady. Salaryman… o homem do salário, o sustento de uma família, dinheiro em forma humana. Office lady… a senhora do escritório, a secretária, o país desenvolvido com menos mulheres nos mais altos cargos empresariais.
Estes super-heróis do emprego não usam "Konnichiwa" nem "Sayonara" para se cumprimentarem. Um "Otsukaresamadesu" constante congratula o colega pelo seu esforço e deseja bom descanso.



Formados para servir e não questionar o superior, acomodam-se à secretária. É o local de trabalho e muitas vezes a sua mesa de almoço e jantar. Chinelos e escova de dentes não faltam, porque, afinal, estão em casa.

Só no final do trabalho o álcool ajuda a relaxar do aperto da gravata. No dia seguinte o Sol Nascente voltará a tornar-se a luz do escritório.

2 Comments:

Blogger sushi lover disse...

as fotos estão muito boas...
Quando eu vivia num subúrbio de tokyo e não raras vezes apanhava o último comboio de tokyo para casa tinha como copanhia estes salarymen, sempre tão cansados e com os olhos raiados... É impressionante e, para nós ocidentais, quase incompreensível este sacrificio físico.

3/4/07 9:33 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Nunca passei nenhuma certidão de obito a cidadão português cuja causa de morte fosse "karoshi".
Mas no presente, causas de morte por consequências de "saturday night fever" sim!
Mundos diferentes, uns de SOL e outros de Lua!!!

4/4/07 4:53 da manhã  

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