País paradoxo
Talvez seria mais simples dizer que o Japão é e não é um paradoxo. Assim entende-se mais profundamente o que este país leva a matutar. Mas os meus dedos não param de embalar o teclado…
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Que visão estranha não ver entulho nem contentores de lixo nas ruas. Piriscas de cigarros, para onde vão no meio da fumarada destressante? (Para o local devido.) Evaporam-se no respeito nipónico.
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No último dos países desenvolvidos em que os direitos femininos começam a ser restituídos ao congénito, a tradição vestida de empregada ainda serve primeiro o filho esgrouviado e depois a mãe doutora que o vem visitar.
(E as senhoras que se juntam à bola masculina, sem arbítrio social machista?)
Japão, Japão, aproveito para confessar, (Não a Deus; aproveito para dizer adeus a Deus) que esta é das circunstâncias que somente me permites tolerar: é Verão, e o sol reflecte nos prédios a humidade que gruda; entro no metro no café ou na empresa, dou um passo e estou em Dezembro; é Inverno, e o sol reflecte nos prédios a brisa que congela; entro no metro no café ou na empresa, dou um passo e estou em Agosto. Como me condiciona o ar artificial.
Mas as meninas do colégio não se apoquentam. É novamente Inverno e a saia curta conjuga com o cachecol. As senhoras dos passeios no bairro de Ginza ou outras cidades-shopping, enchem a sua carteira Louis Vuitton com produtos da loja de 100 ienes.
Não podendo me viciar na cafeína lusa, uma esplanada ao sol permitia-me esclarecer que a saudade é falsa. Mas comer e beber ao ar livre, ou o prazer de um passeio a trincar o fruto do desejo, é visto com sobressalto pelo olhar samurai. Até chegarem as flores da primavera ou o fogo-de-artifício. E os piqueniques... "Desculpe, este lugar já é nosso, hoje vamos mastigar no exterior. Com licença."
Li algures que se a indústria do sexo do Japão fosse uma nação independente, era a 60ª maior economia do Mundo. Atrapalha o meu raciocínio ser claramente (ou timidamente?) o país com menos actividade sexual do Mundo. (cf. estudo aqui).
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O cidadão nipónico vive num tempo de transição. Quando algo lhe atinge o presente, já é passado. (Não se muda o que é tradição porque a mudança é ela própria tradição.)
Os japoneses vivem a antecipar problemas, a rever a agenda e reservar bilhetes, a preparar o futuro. Mas não há tempo verbal Futuro na gramática japonesa.
O Japão não existe para ser entendido. Afirma e nega o mesmo. Fala simetricamente de uma verdade. Uma verdade inacreditável, o Japão.
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Que visão estranha não ver entulho nem contentores de lixo nas ruas. Piriscas de cigarros, para onde vão no meio da fumarada destressante? (Para o local devido.) Evaporam-se no respeito nipónico.
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No último dos países desenvolvidos em que os direitos femininos começam a ser restituídos ao congénito, a tradição vestida de empregada ainda serve primeiro o filho esgrouviado e depois a mãe doutora que o vem visitar.
(E as senhoras que se juntam à bola masculina, sem arbítrio social machista?)

Mas as meninas do colégio não se apoquentam. É novamente Inverno e a saia curta conjuga com o cachecol. As senhoras dos passeios no bairro de Ginza ou outras cidades-shopping, enchem a sua carteira Louis Vuitton com produtos da loja de 100 ienes.


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O cidadão nipónico vive num tempo de transição. Quando algo lhe atinge o presente, já é passado. (Não se muda o que é tradição porque a mudança é ela própria tradição.)
Os japoneses vivem a antecipar problemas, a rever a agenda e reservar bilhetes, a preparar o futuro. Mas não há tempo verbal Futuro na gramática japonesa.

Fotografias, aqui.
3 Comments:
Puto james, da minha parte um obrigado pela tua assiduidade criativa e exemplar teu blog.
Cada vez que te leio e observo, parece que te redescubro
vAsco
Amazingly true. Really nice blog. Keep up the awsome job.
Olá! Já cá não vinha há algum tempo e para variar soube-me bem esta visita! :)
O Japão é realmente um oasis único no meio de um mundo tão normalito como o de onde somos provenientes.
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