terça-feira, abril 04, 2006

"E você vai mesmo para um sítio exótico..."

Não sei quantas horas passei em autêntico transe digital a ver o vídeo do jantar final do Curso de Gestão Internacional, quando os estagiários, um a um, ficaram a saber o destino do estágio.
Quando entro em cena, martirizado depois de oito dias ansiosos e martinizado depois de oito copos nervosos, observo como peço inquieto ao Prof. Alberto Castro, orador da noite, por “Sítios exóticos, sítios exóticos!”. Diz-me: “Pá, você vai para o ICEP, já é um sítio exótico”. Vejo-me a pôr as mãos na cabeça, ao lado de dirigentes do ICEP. Reajo. Depois conclui: “E você vai mesmo para um sítio exótico, você vai para o Japão”. Observo como volto as costas, agito as mãos, saio da sala. Reajo.
É-me impossível explicar aquelas reacções. Não consigo entender-me agora que me vejo sob o olhar supremo do registo fílmico. E ponho-me a reflectir sobre se é possível teorizar a posteriori sobre uma reacção individual. Não sei.

“Chile. Ou Cabo Verde”.
Era esta a resposta que dava quando me perguntavam para onde sonhava eu ir no Programa Contacto.
O Chile sempre foi uma perdição. Desde a veneração inocente da Ilha da Páscoa à luta ciberespacial por um “Erasmus” em Santiago do Chile, e todo um continente de sangue latino por descobrir numa viagem Poderosa. Cabo Verde é uma paixão que me invadiu o inconsciente depois de uma quinzena veraneante. O sorriso das crianças da Praia é uma perigosa endemia contagiosa.
Dois lugares de povos terra a terra, pobres de carteira, ricos de espírito. Agora que me interpreto a mim próprio, talvez quisesse saber como dar à vida simplicidade e receber simplicidade em troca, aprender como ser simples, ou tentar aprender a ser feliz, ou tentar aprender a ser feliz sendo simples. Não sei.

Mesmo sendo formalmente um estágio internacional, para mim o Contacto nunca deixou de ser um voo internacional, uma viagem sonhada, uma oportunidade única de sentir uma cultura antípoda.
Tinha feito uma lista mental de cinco países, que incluía o Japão.
Sítios exóticos… O Japão é dos lugares mais exóticos do mundo, porque é, aos olhos portugueses, diferença, choque, extravagância. Consumismo desenfreado, multidões ordenadas, formalismo rigoroso, tecnologia futurista. Muito pouco terra a terra. Mesmo ricos de carteira, os japoneses são ricos de espírito, espero confirmar.
Não me vejo agora a trocar Tóquio pelo Chile ou por Cabo Verde. Sei que se pudesse trocar, não o faria. Explicar porquê, não sei.

É a experiência extravagante que me espera que pesou na minha decisão de ter um espaço virtual - o blog - em que perpetue aquilo que vou ver e sentir. É também uma obrigação que faço a mim próprio, a de escrever uma vez por semana para o blog, a contar em palavras e em fotografias quão perdido vou andando pela cultura japonesa, mas também a contar uma viagem de exploração interior.
Outra razão óbvia é que usando as expressões orais coloquiais do português das noites jovens como “tipo”, “cena”, “coisa”, “na boa”, “brutal” ou “curti bué” não ia nunca conseguir descrever devidamente à família, amigos, conhecidos e desconhecidos, as peripécias porque passarei. Além de tudo isto, confesso que a viagem sonhada que fiz paralelamente à viagem de Gonçalo Cadilhe e os seus artigos na revista “Única” motivaram-me para continuar a busca anti inércia e a “fuga para a frente”, que persiste dentro de mim desde os meus quinze anos, altura da minha primeira viagem interculturas.
Obviamente, nunca colocarei os textos do blog à frente dos afazeres profissionais na delegação do ICEP, onde vou estagiar. Mas quero, mesmo assim, cumprir a promessa semanal. O tempo logo dirá se o vou cumprir. Eu, por agora, não sei.

Que venha o exotismo do Japão. Mal posso esperar. Mês de Abril, mês da Liberdade, mês de libertar-me do meu país pelo máximo período de tempo desde há 24 anos, quando chorei pela primeira vez.
Quando voltar, mal vou poder esperar pelo próximo estágio cultural.
Chile. Ou Cabo Verde”. Em qual estagiarei primeiro? Não sei.

7 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Abro aspas: Obviamente, nunca colocarei os afazeres profissionais na delegação do ICEP, onde vou estagiar, à frente dos textos do blog: fecho aspas.

:) vou continuar atenta deste lado do hemisfério
c.

6/4/06 8:05 da manhã  
Blogger João Sanches disse...

Tiago bem-vindo à blogosfera!! Fico a espera que nos delicies com as tuas aventuras nesse país exótico. Abraço e boa sorte.

7/4/06 6:04 da manhã  
Blogger xixita disse...

Tiago, "brutal!"
Vive Tokio como queres, eu por Barcelona vou vivê-la através de ti e do teu blog.
Já me tens como leitora assidua. E se fores à Ilha da Pascoa também! Tenho uma fixação por esse lugar desde que me lembro por gente e não morro sem lá ir.

Beijinhos
Francisca@barcelona
(ex-Mossingen, Germany)

11/4/06 2:14 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Hoje disseram-me: "uma visão sem acção não passa de um sonho. Acção sem visão é só um pensamento. Mas uma visão com acção pode mudar o mundo." Dúvido que um de nós possa mudar o Mundo, mas está em nós tentar deixá-lo um bocadinho melhor!
Boa viagem e boa sorte!

Beijo a tiritar

18/4/06 4:23 da manhã  
Blogger ÁguaDiCoco disse...

Tiago, hoje por acaso decidi abrir a "tua janela" no blog do Inov9. Digo-te que comecei a ler e não consegui parar todos os teus posts e quero apenas dizer-te que fiquei maravilhada com a tua capacidade de transpores em palavras e imagens de verdadeira qualidade as tuas experiências por esse país realmente excêntrico. Adorei o blog e vou tomar a liberdade de te "lincar"! Abraço e continuação de bom estágio (ah e eu sou mais uma fã do Cadilhe!)

19/9/06 4:41 da manhã  
Blogger CHV disse...

Após muitos meses deste blog ter sido inaugurado. Parabéns.
Muito Bom!

3/1/08 4:11 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Aprendi muito

21/11/09 1:33 da tarde  

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