sexta-feira, abril 14, 2006

Contraceptivo bibliotecário

A entediante espera trimestral do estagiário por um sinal de permissão de descolagem por parte da Torre de Controlo do ICEP foi sendo ocupada pela ingestão literária dos mais variados temas relativos à cultura japonesa. Como português, comecei pelo princípio. Pelo primeiro contacto luso-nipónico, século XVI, auge da veia descobridora lusitana. São Francisco Xavier e Luís Fróis lideraram diversas missões de cristianização.
Surpreendeu-me a importância decisiva para o Japão da chegada das naus portuguesas: “São tão curiosos e importunos em perguntar, tão desejosos de saber, que nunca acabam de perguntar e de falar aos outros as cousas que lhes respondemos (…). Não sabiam eles [que] o mundo é redondo, nem sabiam o curso do Sol”, S. Francisco Xavier, ano de 1552.
Além da religião cristã, da sabedoria científica e geográfica, Portugal introduziu a arma de fogo nas ilhas nipónicas. A espingarda portuguesa resolveu conflitos intermináveis entre clãs rivais japoneses: resolução japonesa à portuguesa, a tiro com certeza.
Os japoneses souberam aproveitar a presença lusa: “É gente pouco cobiçosa e muito maviosa. Parece que vos querem meter na alma. São muito desejosos de saber de nossas terras e de outras coisas, se soubessem perguntar”, conta o explorador Jorge Álvares.

Depois das ex-colónias portuguesas, o Japão é o país do mundo que mais influência sofreu de Portugal.
Estas novidades históricas aguçaram-me a motivação para a pesquisa cultural, levando-me a passeios deambulatórios por arquivos bibliotecários.
Um encontro fortuito numa biblioteca conimbricense, e chega-me às mãos famintas de virares de páginas o livro ”Sushi Bar, Nós e os Japoneses”. Rejubilei, idealizando no livro uma autenticidade quase bíblica, um manual de preparação para o choque de culturas.
Catapultado por uma curiosidade voraz, inicio a leitura, linha após linha, século após século, nós e os japoneses.
Desisto ao terceiro capítulo do livro.
A experiência contada em Sushi Bar por Eduardo Kol de Carvalho, comete em mim o que me permito intitular de «assalto por negligência». Senti-me lesado em sensações. Não quero saber o que sente um português quando está num avião da Japan Airlines, quando chega a Tokyo, quando anda pela primeira vez no metro.
Prefiro fazer prevalecer a minha virgindade de sensações do efeito nipónico contemporâneo.
Não quero estar preparado para o choque. Saio em missão exploradora numa nau voadora, como se fosse por “por terras nunca dantes navegadas”.

4 Comments:

Blogger Pé do André disse...

Quero ir ao Japao, quero nao como um desejo mas como uma certeza.
Um dia, farei do Sul da china ate ao Japao, nao que isso tenha grande interesse para ti.
Sempre quis, por agora fico-me por Londres, mas estarei atento ao teu blog. Tento puxar para mim, as sensacoes que deves sentir, nesse pais, nesse mundo...
Boa sorte, e' o que um desconhecido portugues em Londres te deseja.
Para terminar, informacao historica:
Foram os Portugueses que levaram o Tabaco para o Japao.

17/4/06 12:39 da manhã  
Blogger Gonçalo Pereira disse...

Foi a primeira visita. Gostei e voltarei regularmente.

Assino, em baixo, com o "nick" do blog sério. Mas sei que obviamente, a visitares algum, será o blog jocoso...

Abraços e boa sorte.

17/4/06 6:45 da tarde  
Blogger Metelo disse...

Falando em tabaco, prepara-te para muito fumador. Exemplo: carruagens no metro para fumadores - uma autêntica nuvem!
hehe

29/4/06 4:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

boa tiago! ainda agora comecei a ler o blog (pelo inicio claro está) e já estou a descobrir coisas q n sabia!!

1/9/06 7:27 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home