segunda-feira, fevereiro 26, 2007

A harmonia vestida de uniforme e o absurdo do Inverno

As gentes do Japão permanecem vestidas de harmonia. A formação do carácter nipónico começa cedo a esconder a individualidade por detrás do uniforme, e é trajado para determinada função que o japonês se identifica com quem é: uma parte de um grupo interdependente.

Os uniformes de estilo ocidental são usados na Educação japonesa desde o final do século XIX. Actualmente, o ensino público obriga as crianças dos 13 aos 18 anos a vestir o standard exterior. Enquanto os rapazes vestem de estilo militar e na puberdade se habituam à gravata, o traje de marinheiro é o mais comum para as meninas. As vestes variam de escola para escola, mas pouco. Na sua lolitomania, algumas escolhem a escola consoante o tipo de uniforme, e é certamente uma menina colegialmente vestida que espevita o primeiro calor de um japonês.
O uniforme é um elemento central no Japão, um símbolo da juventude e um álbum de memórias.


No Japão o estádio da imaturidade é um privilégio que se estende com vaidade. Ao contrário da sociedade onde nasci, que recalca com a cruel entrevista ”o que queres ser quando fores grande?”, no Nippon não há pressão para se chegar a adulto, e muitos crescidos continuam a consumir como crianças.
(Se as crianças portuguesas soubessem o que é ser grande, decerto responderiam à entrevista com um “quero ser pequeno!”).


Certos jovens nipónicos, no período auge da irreverência, vêem o traje como um preconceito de conformismo e tentam adulterá-lo para se naturalizarem. Apenas querem elevar o seu eu no local idealizado para que todos pareçam iguais.
Assim, subvertem o instalado afastando o nó da garganta, desabotoando camisas ou, mais explícito... tornando a saia uma mini-saia. As saias originais são longas, mas as meninas enrolam-nas e os olhares rebolam.

Tal atrevimento transformou as colegiais num símbolo sexual, e talvez por isso muitas usem meias com o símbolo do Coelho rosa. O alvo do fetiche é o vestuário em si: à medida que as saias foram subindo, os uniformes escolares tornaram-se uma importância inegável nos ímpetos naturais japoneses e nas indústrias que os patrocinam.

A vantagem da farda (além de extinguir ricos e pobres) é que as meninas não perdem tempo de manhã a escolher o que vestir, todos os dias conscientes da importância da imagem.

Agora que com Fevereiro chegou o pico do Inverno e os graus baixam a negativos mas a saia continua subida, muitas estudantes protegem os pescoços com o mesmo cachecol Burberrys.

A menina japonesa tem frio no pescoço mas não nas pernas: aguenta a temperatura para alcançar o mais importante, estar bonitinha.

No Verão não custa tanto estar bonita, aqui.

domingo, fevereiro 18, 2007

Vénia ao néon

Nas cinzentas metrópoles não se aglomera apenas a rotina. Os amontoados de cabos são verdadeiras torres de Pisa de electricidade, fazendo uma vénia à solicitação néon.

A eléctrica cidade de Tóquio exterioriza a sua energia: para onde quer que se volte, os volts estão por ali.

Electricidades, aqui.

sábado, fevereiro 17, 2007

(sem título)

sábado, fevereiro 10, 2007

Pedigree Social

A industrialização dos animais de estimação é apenas outra peculiaridade que desagua na expressão “só no Japão”.

Os valores da qualidade e sofisticação são de tal modo aquecidos pelo Sol Nascente que até os cãezinhos beneficiam desta importância de pedigree social, sendo tratados como seres humanos. Enquanto abundam os cafés, cabeleireiros e hotéis para cães, existem actualmente menos crianças do que animais domésticos.

O cão tornou-se um adereço de moda, que segue as tendências de roupas, jóias e penteados. Usam jeans, colares opulentos ou fatos de treino, conforme o dono.
São, afinal, o melhor amigo do Homem, mas também da japonesa solitária que procura afectos e do casal que substitui o filho que não pode suportar financeiramente.

No caso dos "proprietários do ser vivo" saírem da ilha, os animais podem ficar instalados na suite construída no Aeroporto de Narita. Pedicura, uma nova cor de pêlo ou noites em hotéis de amor, tudo existe neste mundo-pouco-cão. Até matrimónio, se houver romance.

Os donos usam malas ou carrinhos para levar o cachorrinho a passear, ou levar-se a si próprios a passear com a companhia possível de obter numa loja. Nestes supermercados de vidas, há Chihuahuas de poucos gramas a pesar cerca de 500.000 ienes (mais de 3000 euros).
No Japão contemporâneo já não é o cão que suja o tapete, antes é o tapete que não pode irritar a pelugem da criança canina.
Mais fotos, aqui.