quinta-feira, agosto 31, 2006

Por baixo de mim

17h:18min. Uma onda de 3 atinge Richter.
Abana o prédio, a Natureza é mais forte que o betão. Os livros aguentam-se na estante. Eu fico preso à cadeira esperando que termine. Em segundos respeito como nunca a bola terrestre por baixo de mim. Um tremelique maior e...

"Ainda não foi desta", comenta-se no escritório.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Mitos portugueses II - Gueixas

Foi durante a ocupação americana do Japão que surgiu a expressão "gueisha girl", denegrindo a imagem da "pessoa de artes". As gueixas não são prostitutas.

Aprendem as artes da dança, pintura, sedução, música, canto, uma formação de treino rigoroso. Os rostos pálidos e lábios rosados expressam o ideal de beleza. Seus dotes e inteligência proporcionam a homens abastadamente poderosos momentos de descontracção em reuniões e jantares.
Entretêm, nunca vendendo o corpo. Apenas companhia e cultura, que pode custar muitos ienes. É um mundo íntimo e misterioso. As gueixas também aprendem a arte de guardar segredos.

terça-feira, agosto 29, 2006

A eficiência da chave mágica

Neste mecanismo formigueiro, torna-se uma rotina de espontaneidade maquinal refugiar-se da tensão urbana no esconderijo das pálpebras. Depois, o cansaço das horas do nó da gravata e dos poros transpirando humidade fecham o abrigo com a chave do sono.
A fermentação alcoólica do arroz também pode contribuir. A segurança é um regalo para as malas Louis Vuitton das belas nipónicas adormecidas. Na toupeira metropolitana, a eficiência repousante dos guerreiros citadinos segue lições budistas. Os corpos não escolhem horas, camas, e razões para isolar as mentes do Nippon em quimeras de sossego na escuridão do paraíso em que tudo se vê.
Não adormeça com o efeito-niponico.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Valete de paus

Tenho trunfos, duques e rainhas no baralho japonês de pessoas. Enlaça amizades e é indispensável no mundo dos negócios, indignamente a base de todos os mundos civilizacionais.

É pela sua preciosidade que o meishi, o cartão de visita, é entregue e recebido com ambas as mãos, lendo respeitosamente o nome e o cargo, em Rōmaji - alfabeto românico - e nos caracteres Katakana.

Para não ser um Zé-Ninguém,
torno-me num rectângulo de papel alguém,
literalmente metido num bolso por outrem.





Arranhando os céus

Sinto o desconforto na barriga na viagem quasi-espacial do elevador. Nunca havia subido tão alto na megalomania do cimento.
Esta cidade não se cansa de conquistar espaço à atmosfera. Tiro partido do 60º andar. É a primeira vez desde que pernoito em Tóquio que consigo vislumbrar uma estrela cintilante.
Arranho o céu, invejo as asas dos seres mais livres, recebo as energias do sorriso da Lua, olho os pontos humanos que se movem no abismo em vertigem, olho para dentro de mim, sou tão pequenino.

terça-feira, agosto 22, 2006

Hanabi

E de repente o céu explode flores de fogo.
A pirotecnia tradicional japonesa, arte de famílias, une milhões de olhares deslumbrados. O público sentado pasma de surpresa, quando, em várias noites de Agosto por todo o Japão, corações, Pokemons, e sorrisos de faíscas coloridas irrompem o firmamento.

Refugiado da multidão no terraço de um prédio, contemplo o fogo desfrutando o jantar. À volta das cervejas, desfrutam os amigos japoneses quando digo que no meu país o céu explode durante vinte minutos. São as flores de fogo, o Hanabi, que durante uma hora e meia tornam vivo o jardim celestial.
Fotos em efeito-niponico.

quinta-feira, agosto 10, 2006

O-bon

É crença nipónica que as almas defuntas voltam do paraíso durante o período de feriados budistas, o O-bon.
Como na terra onde fui semeado, as famílias visitam os túmulos dos que voluteiam nas memórias. Mas o vácuo afectivo é anestesiado pelo Bon Odori: é num rodopio alegre, em harmonia musical e trajes coloridos, ao ritmo de palmas e movimentos paulatinos, que os japoneses consagram os entes queridos.

Brinda-se a genealogia sentimental com uma festa. As almas voltam, não para ver lágrimas de saudade mas danças de alegria, amor e amizade. Ao invés de se chorar a morte, celebra-se a vida.


Evoca-me o silêncio cinzento, sob o uivar constrangedor dos pinheiros, no cume da aldeia que cultiva sementes de vida. A próxima vez que a visitar, a minha Avó não vai fazer-me chorar, antes eu vou fazê-la sorrir.

Mais imagens em efeito-niponico.

terça-feira, agosto 08, 2006

Provérbio japonês

Se o cão anda na rua, um osso pode encontrar.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Hachiko Crossing

A juventude comanda Shibuya. Um bairro em movimento, bombeado pelo ininterrupto Hachiko Crossing. O abraço das cinco passadeiras é considerado o mais inundado do mundo: ondas de vidas transeuntes surgem na desordem da maré definida pela cor do semáforo.
Por vezes sinto que o meu corpo ressaca da insignificância na multidão e o meu olhar de todo o aparato multicolor. Aqui, enquanto espero o sim verde do relógio urbano, inspiro a máxima sensação do que é viver em Tóquio.

Fotos em efeito-niponico.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Lixos aos seus lugares

No Japão as regras não são deitadas ao lixo. Todos participam no ciclo da reciclagem. Dois caixotes em cada casa: combustíveis e não combustíveis. Garrafas e latas seguem outro caminho do despejo.

O consumo doméstico é temporizado. Apenas em dias estabelecidos e horários rigidamente matinais se acomoda o lixo na rua. A forma de vazar o entulho é o principal factor de consideração entre a vizinhança nipónica.

O repugnante transforma-se em reutilização, emprego e melhor ambiente, através de um conceito que não aparece em todos os dicionários lusos.

Recicle-se em efeito-niponico.