terça-feira, maio 30, 2006

Em Tóquio a viver...

Em Tóquio a viver, faço o que me apetecer.
Ninguém vai saber.
Em Tóquio a viver, faço o que entender.
Ninguém vai saber.
Assim é que gosto de viver.

Lá em casa tudo bem I

Internet, espaço cibernético que aumenta o meu poder. Escolhi o meu quarto antes de chegar ao Japão. Um dia encontrei e decidi-me: Quarto 501. Janelas, espaços psicológicos que aumentam o físico.

Vivo junto ao coração de Tóquio, o jardim imperial, no bairro de Kudanshita (lê-se "kdãnshta") numa gaijin house. Gaijin significa: "não japonês". Lá em casa somos três.

Nascido num berço belga diplomata, sorte de nascença que o fez estagiar em países como a Síria, o Equador, as Filipinas ou a Austrália, David deixou o trabalho em Bruxelas para encontrar emprego em Tóquio. "Eu nem sou muito aventureiro", disse-me. Ainda não encontrou.

O Alexei é russo. Tem um amigo especial brasileiro. Cozinha receitas especiais da Sibéria. Não me deixa assobiar em casa. "Dá azar", esta regra russa que vou quebrando de vez em quando (talvez a regra portuguesa da casa).


(mais fotos em efeito-nipónico)

KAMPAI!!!

Os japoneses bebem muito. O álcool faz parte da sua cultura e o estado de embriaguez também. Ao brindar, diz-se: "KAMPAI!"

Em Portugal, diz-se "chin-chin".
Chin-chin é a palavra japonesa para referir o orgão genital masculino.

quinta-feira, maio 25, 2006

Auto-retrato

terça-feira, maio 23, 2006

Claustrofobia

Já estou em condições de confirmar a claustrofobia que se diz sentir quando se está no Japão. O betão aperta as pessoas, as pessoas apertam as pessoas, o estado Lost in Translation é asfixiante. Com isto eu lido lindamente.
O que me sufoca é o meu passaporte: o meu visto é mesmo só de um ano.
Confirma-se a claustrofobia...

Mitos portugueses I - Táxi

Ainda no Portugalinho, ouvia as histórias de turistas que já tinham visitado o Japão. Primeiras impressões: "Caríssimo! Só de táxi do aeroporto para Tóquio pagámos 50 contos!!!"
É verdade que esta viagem pode custar mais de 250 euros.
É verdade que os taxistas usam luvas brancas.
Mas também é verdade que qualquer viajante ou mesmo turista prevenido sabe que existe um Limousine Bus, que sai da porta
do aeroporto cinco vezes por hora e que custa... 20 euros.

À portuguesa, da parte se faz o todo.
À portuguesa, nada se prepara, tudo se repara.
À portuguesa, se escolhe o caminho mais fácil.

Provérbio japonês

Se eu não tivesse ossos, queria viver no teu corpo.

sábado, maio 20, 2006

Domingos excêntricos em Harajuku

Dos quilómetros que já percorri, é na extravagância de Harajuku que me retenho mentalmente. Este bairro é um epicentro de moda íman para a juventude contra-cultura desde que o mundo internacional aqui se concentrou nas Olimpíadas de 1964.

Mais do que os originais vestidos e maquilhagens, é a quantidade de disparos fotográficos que me abalroa, para divertimento dominical de jovens nipónicas numa passerelle à entrada para o Santuário Meiji, o mais importante de Tóquio.

Nesta guerra pela imagem conquistada, balas de surpresa são disparadas por fotógrafos ocidentais e tiros de canhão profissionais por invulgares repórteres japoneses. A cada detonação é ver os sorrisos orgulhosos das excêntricas meninas a agradecerem a atenção militar da Fotografia.

Não consigo imaginar quantos projécteis pictóricos são disparados num Domingo em Harajuku, mas tento confrontar a quantidade a um dia da Grande Guerra. É que chegado ao seu quartel, o soldado da Fotografia verifica que tinha gasto, sozinho e em poucas horas, 187 munições.


(mais imagens de Harajuku em Efeito-Niponico)

domingo, maio 14, 2006

Golden Week

Quis o destino que a chegada ao Japão coincidisse com a Golden Week, a maior época festiva do calendário nipónico. O termo, criado por produtores teatrais que viram as receitas aumentar desde a lei de 1948, refere-se ao ciclo de três feriados consecutivos da primeira semana de Maio, quando se festeja a constituição, a nação, a infância.

É o período do ano preferido para viajar, em que as famílias aproveitam um período de convívio irrealizável durante a semana laboral: muitos papás do Japão não vêem os filhos durante os cinco, ou seis, dias de trabalho.
Também para mim foi uma semana de viajante, não de estagiário trabalhador. Foi o adiar da rotina por uma semana, de ouro.
Com os minutos aproveitados desde o seu nascer, o Sol aqueceu-me os passos deambulatórios pelos bairros de Tóquio. E ao sentir a emoção de pisar este solo longínquo, voltei a sentir-me incógnito, livre.

Foi a semana mais preenchida, sentida, que alguma vez tive. A Golden Week entra directamente para o pódio dourado das semanas da minha vida.

Passeios sem rumo em insónias matinais.

O cruzamento de Shibuya numa hora morta.

(mais fotografias em Efeito-Niponico)

terça-feira, maio 09, 2006

À esquerda, a solidão confortável

As asas do desejo poisam no Aeroporto de Narita numa manhã de gratidão solar. Um incerto jet-lag e um certo fat-bag não contrariam a tranquilidade que sinto. Tranquilo, espero as dúvidas dos senhores da alfândega. Tranquilo, vejo os outros passageiros e o tempo a passarem, tranquilos.

Faço o trajecto de autocarro até Tóquio de olhar esbugalhado com as novidades, e já no alvoroço de Shinjuku, dou por mim a rir-me sozinho ao notar que caminho em contra-mão. Num ápice, o estagiário esquerdino assimila a diferença da direita ocidental para a esquerda oriental.
Caminho pela esquerda de olhares recortados que me cortam o coração, viro à esquerda e tenho as chaves do meu futuro ninho. Tudo planeado com cliques num botão do lado esquerdo.

Imerso numa solidão extrema de monólogos interiores, passo os primeiros dias à volta de Tóquio à volta de mim.
Do pouco que digo em japonês retribuem-me ruídos indecifráveis. O choque de culturas é pura diversão, quais embates de carrinhos-de-choque. Não tenho ainda a carta de condução de viatura cultural, e a ingenuidade assola-me a cada segundo: a ingenuidade de quem provém de outro lado do mundo, de outro tempo do mundo.


(mais fotografias em Efeito-Niponico)